Testes com proxalutamida
MORTALIDADE POR COVID-19 CAI 92% COM NOVO MEDICAMENTO
Estudo desenvolvido no Amazonas com pesquisadores brasileiros e norte-americanos constatou que o medicamento proxalutamida apresentou resultados promissores contra a Covid-19, inclusive com suas variantes. Segundo o levantamento, houve redução de 92,2% no número de mortes de pacientes graves que tomaram a droga.
Houve diminuição também no tempo médio de internação e na realização de intubações de pacientes graves com a infecção causada pelo novo coronavírus. A pesquisa foi realizada pelo Grupo Samel de hospitais, do Amazonas, e a empresa de biotecnologia Applied Biology, dos Estados Unidos.
O resultado final do estudo foi apresentado na quarta-feira (10/3) pelo presidente do Grupo Samel, Luis Alberto Nicolau, e contou com a presença do médico e pesquisador Andy Goren, diretor médico da Applied Biology, que dirigiu o estudo, coordenado no Brasil pelo médico Flávio Cadegiani, fundador e diretor médico do Instituto Corpometria e diretor médico da Applied Biology. A pesquisa foi conduzida em conjunto com os médicos Daniel Fonseca, diretor técnico da rede Hospitais do Grupo Samel e Ricardo Ariel Zimerman, infectologista do Hospital da Brigada Militar de Porto Alegre.
A pesquisa com a proxalutamida foi realizada em pacientes hospitalizados em estado crítico por Covid-19. Os testes ocorreram em 600 pacientes da rede Samel e de mais 12 hospitais de 9 municípios do Amazonas, em um período de 14 dias. O estudo clínico foi do tipo randomizado, duplo-cego e placebo-controle. Os resultados mostraram que 294 pacientes fizeram o uso da proxalutamida e 296 usaram placebo.
Após concluir o estudo com 590 pacientes dos 600 iniciais, os números revelaram grande eficácia do medicamento contra a Covid-19, confirmando os dados iniciais. A reportagem do Portal do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico teve acesso aos números totais.
Na primeira fase, o uso da droga em um grupo de 235 pacientes, selecionados nos primeiros dias de internação, provocou a diminuição do tempo de hospitalização em 70%, além de redução no número de mortes acima de 50% e intubação em mais de 70%.
Ao entrar no estudo, a quase totalidade dos pacientes estava em ventilação não-invasiva ou em necessidade de oxigênio, o que os caracterizava como pacientes críticos. Após 14 dias de tratamento, a mortalidade foi de 47,6% no grupo placebo e de 3,7% no grupo que tomou a proxalutamida, uma redução de 92,2%. Mais da metade (52,7%) dos pacientes que utilizaram placebo precisaram ser intubados, ao passo que 4,4%, dos pacientes que utilizaram o medicamento necessitaram de intubação, ou seja, mais de 10 vezes menos.
Ainda de acordo com o estudo, nove em cada dez pacientes internados que tomaram proxalutamida (89,1%) já tinham recebido alta, enquanto aproximadamente um terço (32,8%) dos que receberam placebo havia recebido alta após o período de 14 dias. Uma melhora clínica significativa pôde ser observada com três dias, em média, após o início do medicamento, contra quase 19 dias no grupo placebo.
Segundo os pesquisadores, no universo de pacientes pesquisados, a maioria apresentou quadro compatível com a variante P.1, “o que torna a proxalutamida provavelmente o primeiro medicamento oficialmente pesquisado para tratar a nova variante da Covid-19”.
Andy Goren revelou na apresentação dos resultados do estudo como se chegou à associação entre a proxalutamida e a Covid-19. “Em fevereiro de 2020, nosso grupo de pesquisa descobriu uma relação entre a queda de cabelo e a severidade dos casos de Covid-19”, explicou Goren, lembrando que os estudos indicaram que o novo coronavírus só consegue entrar nas células pulmonares por meio dos androgênios (a proxalutamida é um antiandrogênio). Applied Biology é uma empresa de biotecnologia especializada no desenvolvimento de medicamentos para doenças capilares.
“A ciência é a maior arma contra o novo coronavírus”, resume o farmacêutico do Ministério da Saúde e professor da pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica no ICTQ, Rafael Poloni. “Por isso, os cientistas brasileiros estão trabalhando arduamente desde o início da pandemia, mesmo que o incentivo para a pesquisa no Brasil seja pequeno, quando comparado a outros países. É necessário que os nosso pesquisadores sejam devidamente amparados pelos órgãos públicos, governantes e população”.
No que tange ao uso da proxalutamida para o tratamento da Covid-19, Poloni destaca que o entusiasmo com a novidade não pode prescindir de todos os cuidados. “É importante salientar que se trata de um estudo divulgado com resultados promissores, entretanto, há um longo caminho a ser percorrido antes que o medicamento seja aprovado para essa finalidade. Por isso, ele não deve ser utilizado para Covid-19 até que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o aprove”.
A reportagem do Portal do ICTQ entrou em contato com os pesquisadores responsáveis pelo estudo para saber mais detalhes sobre os próximos passos do trabalho, inclusive sobre o registro do medicamento na Anvisa, e assim que receber as informações este texto será atualizado.
FONTE:
ICTQ - Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade
https://ictq.com.br/farmacia-clinica/2690-mortalidade-por-covid-19-cai-92-com-novo-medicamento